Diário de Bordo - Sérgio

 

10/11/2006

Sete horas da manhã saltei da cama para ver como estava a ancoragem, já que a maré estava mudando. O barco havia passado por cima do cabo de âncora e este se enroscou novamente na quilha. Usei a garatéia e rapidamente arrumei o cabo.Descansei mais um pouco, mas logo levantei para limpar o fundo do barco. O fundo estava bem sujo, cheio de cracas. Em uma hora resolvi o problema e acordei as crianças para tomarmos café. Elas lembraram que fazemos hoje onze meses de viagem. Faremos mais um aniversário de viagem navegando! Eram dez horas da manhã quando levantamos âncora e o dia prometia uma grande velejada, pois o vento nordeste estava firme na casa dos 12 nós e o dia maravilhoso. Fomos saindo da barra, respeitando direitinho cada waypoint, deixando Atapus e as belas ilhas de Itapessoca e Itamaracá para trás. Uma hora depois estávamos fora da barra e a caminho de Recife. Víamos a costa da ilha de Itamaracá, que é muito bonita. Tentaremos vir de carro ainda, para ver o Projeto Peixe-Boi e o Forte Orange. Soltei a linha para pesca, esperando pegar o jantar. O vento soprava de 12 a 15 nós de uma direção muito favorável e nós fazíamos uma média de seis e meio a sete nós, com as ondulações ajudando! Esperamos ser esse vento que nos levará todo o caminho de volta até Ilhabela. A Carol ficou meio enjoada, mas o Meclin resolveu o problema. No meio do caminho, a fricção cantou e comecei a puxar uma bonita sororoca. Era um pouco maior que as outras, mas quando tentei puxá-la diretamente para bordo, ela escapou! Eu devia ter falado para o Jonas pegá-la com o puçá, mas como as duas do outro dia vieram bem, achei que esta também viria. Coloquei a linha na água novamente, mas não deu resultado nenhum até Recife. Quando eram duas horas da tarde, já nos aproximávamos da bóia de entrada do canal e faltando quinze para as três baixávamos âncora em frente ao Beberibe, para esperar a maré para entrar no Cabanga. A fome estava grande e a votação foi ganha pelo miojo com ovo (e olha que estavam concorrendo strogonoff’s de frango e de carne e tapiocas!). Arrumamos o barco, fizemos o almoço e as crianças ficaram lendo. Quando faltavam quinze para as cinco, levantamos a âncora e seguimos para o Cabanga Iate Clube, nosso velho conhecido. Fomos entrando no canal vendo um lindíssimo pôr-do-sol. Quando estávamos quase entrando, um veleiro vinha saindo: era o Poison, um Bahamas 40. Passamos por eles e, pouco depois, vi que estavam correndo para desligar o motor, que deve ter aquecido. Eles abriram vela rapidamente e, como estavam com vento favorável, não fui ajudar, pois estava fácil voltar para o clube. Entrei e o seu Hélio nos colocou numa vaga. Quando estávamos acabando de amarrar o barco, vimos o Poison encalhado do lado esquerdo da saída do clube! Uma lancha estava puxando-o pela popa para desencalhá-lo. Arrumamos o barco, pegamos nossas coisas e descemos. Ao passar na frente da entrada do clube, o Poison estava, agora, encalhado do lado direito da saída do clube e a lancha estava novamente saindo para ajudar! Tomamos nosso banho, trabalhei um pouco no site e voltamos ao barco. Antes de dormir, ainda comemos uma sopinha com bolachas no Fandango.

 

11/11/2006

Nosso café da manhã com a base de tapiocas, com pizzaiola (queijo, tomate e orégano) como a preferida. Fui até a secretaria do clube e dei a entrada do barco. Fiquei sabendo que temos diárias grátis até dia 05 de dezembro (ou seja, três meses de franquia a partir da primeira entrada no clube) no clube. Mesmo as diárias, se precisássemos pagar, não seriam tão caras (seis dólares por dia). Fomos para a piscina e ficamos esperando a Mônica, irmã da Lu, que está chegando para nos visitar. O vôo atrasou, por causa da operação padrão e, enquanto isso, coloquei nossa página atualizada no ar. Mô chegou e trouxe vários presentes, inclusive muitos para o Fandas! Conversamos bastante, matamos saudades e mostramos muitas fotos dos lugares por onde passamos. Fomos para o barco já era noite, onde comemos uma macarronada, lemos um pouco e dormimos cedo.

 

12/11/2006

Repeti as tapiocas para a Mô experimentar. Fomos para o hotel onde ela vai ficar, que fica na praia de Boa Viagem, de frente para o mar. Ficamos na praia e experimentei o caldinho de feijão, que é bom e comemos queijo coalho. Mesmo com a maré alta, tomamos um banho de mar, bem na beirada, por causa dos tubarões. Após ficar na praia por mais de duas horas, curtindo o sol delicioso (parece que em Sampa está a maior chuva!), fomos conhecer a piscina do hotel, que fica no topo do prédio. A vista é linda, mas a praia é muito mais divertida! Descemos e fomos até a pracinha da Boa Viagem, onde tomamos sorvetes e depois fomos para o Aeroporto buscar o chefe da Mônica, que estava chegando. Na verdade, meu interesse era passar na Polícia Federal para ver o que era necessário para tirar nossos passaportes, para ver se podemos aceitar o convite de nossos amigos para ir ao Caribe no barco deles. Decepção! Precisaríamos do meu certificado de reservista, que eu não trouxe. Desisti da idéia e o Jonas ficou muito chateado e começou a reclamar e a chorar! Não deu nem cinco minutos e a coincidência aconteceu. A Márcia do Cavalo Marinho ligou para meu celular, dizendo que gostariam muito que nós fôssemos e que eles não irão sair de Natal sem ter uma pessoa em que eles confiem para ir com eles e se propondo a ajudar no que fosse possível para que nós fôssemos! Com as crianças meio chorosas e os amigos insistindo para irmos, tentei botar a cabeça para funcionar para conseguir meus documentos. Liguei para o Márcio, que estava na Ilha e ele disse que poderia pegar meus documentos em casa. Ficamos mais um pouquinho com a Mônica, nos despedimos (chuiff! – pena que ela ficou tão pouco tempo) e voltamos para o barco de ônibus para eu ligar para a Ana, nossa empregada, que irá abrir a casa para o Márcio amanhã cedo. Quando chegamos ao clube, encontramos a Karina, o Hans e a Marina, do veleiro Aventureiro, e o Cleydson, do veleiro Curumin. Conversamos um pouco e eles foram muito gentis, disponibilizando uma vaga que eles tem ao lado do barco deles. Também falaram para não deixarmos de passar em Suape e disseram que, se precisarmos dos way-points, eles tem todos. Liguei para a Ana e passei o contato para o Márcio, fiz o strogonoff de carne bovina da Mio Modo, que é muito bom também, e fiquei lendo “História do Mundo em 6 Copos”, tentando tirar a cabeça da possível viagem ao Caribe, para não ficar muito excitado. Parece que tudo está conspirando para irmos e, quando a coisa começa assim... Acho que estou pegando uma gripe, pois minha garganta está doendo um bocado.

 

13/11/2006

Acordamos tarde e, após o café, o Márcio ligou dizendo que iria colocar os documentos no correio em São Paulo, para chegarem mais rápido. Ficamos no clube, descansando e aproveitando a piscina e, por telefone, fechei um passeio turístico para fazermos amanhã: visitar o forte Orange, que tem nos livros de história e geografia das crianças e ver o Projeto Peixe-Boi, os dois na ilha de Itamaracá. Fazer esse tipo de passeio por uma companhia de turismo, normalmente sai bem mais barato do que alugar um carro ou pegar um táxi. No nosso caso, cobraram R$30,00 por adulto e R$15,00 por criança, totalizando R$60,00. Um carro para alugar custaria mais de R$100,00, entre locação e combustível, fora o problema de se dirigir num local que não se conhece (no meu caso, ainda há o agravo de não dirigir faz tempo!). Os táxis estão pedindo de R$150,00 para cima para fazer o mesmo passeio. Fiquei trabalhando no site ao lado da piscina durante toda a tarde e, após uns cocos e salgadinhos na Dna. Lindalva, voltamos para o barco para descansar. A Mô nos ligou se despedindo, pois já estava indo embora de Recife. Pena ter ficado tão pouco tempo!

 

14/11/2006

Acordamos cedo e após um rápido café da manhã, estávamos pegando um táxi para ir até o Hotel Recife Praia, onde nos pegariam para o nosso passeio do dia.  Após uma breve espera, o micro-ônibus chegou. Rapidamente embarcamos e saímos na direção de Itamaracá. Após cerca de 40 minutos de viagem, paramos na cidade histórica de Igarassu. É uma linda cidade colonial, bem preservada, com as casas pintadas cada uma de uma cor diferente. Fomos visitar um convento, com a tradicional “roda de doações”, onde também colocavam as crianças abandonadas. Em seguida, fomos à igreja de São Cosme e Damião, apresentada como a igreja mais antiga do Brasil. Segundo foi explicado, isso se deve ao fato da igreja ter sido inaugurada já como igreja, diferente das outras, que era consideradas capelas na época em que foram construídas. Isso, mais a construção do forte Orange, na entrada da barra, mostram como a cidade foi importante no começo do século XVI. Voltamos ao ônibus e seguimos para Itamaracá. Passamos por uma bela ponte, que liga a ilha ao continente e fomos nos deslocando pela ilha. Logo, vimos a entrada do Projeto Peixe-Boi, em seguida o forte Orange e um pouco depois paramos numa praia, que seria nosso ponto de apoio. Descemos e logo vieram oferecer passeios de barco até a Coroa do Avião, um grande banco de areia na frente da praia e comida no restaurante da praia, bem caro. Como o passeio de barco também era caro (a distância a se atravessar era muito curta e eles cobravam sete reais por pessoa), ficamos tomando um banho de mar na bela praia do local. A água era quente e limpa e vimos alguns peixes nadando bem na beirada. Resolvemos andar pela praia, em direção aos muros do forte. Chegando bem na ponta do forte, o contornamos e andamos mais um pouco, onde achamos um simpático barzinho de praia, bem atrás do projeto Peixe-Boi. Os preços eram bons e pedimos um “escondidinho”, que era muito grande e bom! Comemos os três e ainda sobrou! De lá, resolvemos visitar o projeto Peixe-Boi, um dos nossos motivos do passeio. Lá, pagamos a pequena taxa de entrada e um guia nos deu as principais informações sobre esses interessantes mamíferos. Só existem quinhentos exemplares no Brasil do peixe-boi marinho e o projeto trabalha na preservação, salvamento, cuidados e readaptação dos peixes-boi ao seu meio ambiente. Vimos um esqueleto, vários cartazes com informações desses mamíferos e fomos para os tanques. No caminho, encontramos sagüis e as crianças brincaram com eles. No tanque, ficamos impressionados com o tamanho e tranqüilidade dos bichos. Cerca de onze peixes-boi estavam separados em dois tanques e vinham toda a hora para a superfície. Podíamos vê-los de cima e de grandes vidros na parte inferior do aquário. São muito bonitos e, só por eles, já valeu o passeio! Vimos um belo filme sobre a preservação da espécie e o trabalho bonito da equipe do Projeto Peixe-Boi. Vimos como é feito o resgate, todos os cuidados com os peixes-boi feridos e como eles são devolvidos à natureza. No final do filme, a boa notícia: os peixes-boi criados em cativeiro e depois libertados, estavam se adaptando perfeitamente, inclusive se reproduzindo! Findo o passeio, seguimos para o forte Orange, que fica bem ao lado do Projeto Peixe-Boi. O forte, construído pelos holandeses, historicamente muito importante, está preservado graças aos esforços de José Amaro, um ex-presidiário que “adotou” o forte e cuidou de sua preservação com seus próprios esforços. Este chegou a ir no programa do Jô Soares, contar a sua história. Ainda estão sendo feitas muitas pesquisas arqueológicas no local e o passeio vale a pena pela história e beleza do lugar. Batemos muitas fotos e retornamos ao ônibus para retornar ao Cabanga. Uma das coisas mais legais da viagem é esta oportunidade das crianças conhecerem a história “ao vivo e a cores” (desta vez com a cor “orange”!). Nosso retorno ao clube já foi com o coração acelerado: soube, por telefone, que nossos documentos para os passaportes chegaram no clube. Como a Márcia havia sugerido de encontrarmos com eles em Natal e tentarmos tirar nossos passaportes em Fortaleza, logo liguei para a rodoviária e soube que havia um ônibus para Natal à meia-noite. Logo que chegamos no clube, pegamos nossas malas (com toda a roupa para um ano de viagem, pois não teríamos tempo de ficar selecionando roupas naquela hora) e todas as coisas que precisaríamos para uma longa temporada fora do Fandango. Tomamos nosso banho, avisei no clube de nossa ausência e contamos sobre a possibilidade de ir ao Caribe para o Cleidson, do Curumim, que já ficou navegando um bom tempo pelo Caribe. Muito simpáticos, ele e a esposa nos ofereceram uma carona até o metrô. Lá fomos nós, com muita bagagem para o metrô, em seguida para a rodoviária, onde compramos passagens, tomamos um lanche e aguardamos até a meia-noite, quando embarcamos para encontrar nossos amigos. Hoje foi um dos dias “mais longos” e bem aproveitados da viagem!

 

15/11/2006

Após uma hora e meia de viagem, o ônibus parou. Começou um entra e sai de gente e, logo depois, de policiais. A Polícia Rodoviária Federal havia parado o ônibus e achou uma moto toda desmontada no bagageiro do ônibus em vários pacotes. Ninguém se apresentou como dono da moto e eles pegaram todos os documentos das pessoas que estavam a bordo. Depois de uns quarenta minutos, devolveram os documentos e removeram um casal do ônibus. Os policiais voltaram depois e vasculharam o banco onde eles estavam e acharam os comprovantes de bagagem referentes às partes da moto! Pouco depois, a moça voltou chorando e o ônibus partiu sem o rapaz. Fiquei impressionado com a eficiência e educação da Polícia com todos no ônibus e dei os parabéns ao policial que nos devolveu os documentos. Após uma hora de viagem, nova parada: um automóvel se enfiou embaixo de um caminhão e parou toda a estrada. Parece que o acidente foi muito feio e não sobrou ninguém no carro. Consegui dormir mais um pouco e chegamos com mais de uma hora de atraso em Natal. Pegamos um táxi e logo estávamos no clube. Fui telefonar para o Rodrigo nos pegar, mas a bateria de meu celular havia arriado totalmente no ônibus. Consegui ligá-lo por dois segundos e decorei rapidamente o telefone dele, ligando, em seguida, do orelhão.  Rapidamente, ele e o Nick vieram com o bote nos buscar no píer, onde conversávamos com a Margarida, do SadalSuud. Ela contou que o Marco estava viajando, mas que em breve voltaria para eles irem para o Caribe também. Carregamos as bagagens e demos uma paradinha no Beduína, para cumprimentar o pessoal. Apesar de serem seis horas da manhã, todos já estavam acordados e pensavam em sair imediatamente. Após um café rápido no Cavalo Marinho e esperarmos a chuva passar um pouco (puxa, estava chovendo em Natal e justo na nossa saída!!!), pois estava muito forte, saímos devagar da barra com ondulação alta. O vento começou a ficar forte e estava na cara, meio de nordeste para leste, com mar grosso e mais chuva. Rizamos a mestra e fizemos umas seis horas de navegação bem ruinzinhas. Enquanto isso, matávamos saudades de nossos amigos e curtíamos o conforto do Cavalo Marinho. A Carol, logo na saída, foi dormir e ficou dormindo por todo o dia. A Márcia não passou muito bem e começamos a escutar no rádio avisos de ressaca entre Natal e a Paraíba, nos dias 15 e 16. Quando dobramos o Cabo Calcanhar no final da tarde e mudamos nosso rumo bem mais para oeste, tudo ficou melhor a bordo para a tripulação, porque o barco parece que nem sentia o tempo ruim! Fizemos nossos turnos durante a noite e os tão famosos alísios do Atlântico Norte (apesar de ainda não havermos cruzado a linha do Equador) se apresentaram para nos levar para Fortaleza. Fazíamos de seis a sete nós de média, com vento real na casa dos dezoito nós. As crianças acabaram a noite delas vendo DVD estilo “cineminha” na sala do “cinco estrelas” Cavalo Marinho!

 

16/11/2006

A noite transcorreu calmamente e amanheceu um dia muito bonito. Continuávamos andando muito bem e o mar ficou bem mais calmo quando atingimos grandes profundidades. Tivemos um dia excelente! Conseguimos cozinhar, as crianças brincaram com Lego o dia todo e até tentamos pegar um peixinho com uma isca artificial na popa. Tudo, no barco, fica muito diferente com mar calmo e bom vento favorável. Fomos fazendo nossos turnos tranqüilamente e curtindo a velejada deliciosa, experimentando o gostinho de uma travessia para o Caribe. No começo da noite, tudo começou a mudar. O Beduína, que estava à nossa frente, avisou que estava passando por muitos barcos de pesca e muitas bóias de espinhéis. A profundidade começava a diminuir e, inversamente proporcional à profundidade, os problemas começaram a aumentar. Muito atentos, fomos passando por muitos barcos de pesca. O vento aumentou e as ondas também. Como o vento estava bem de popa, logo tivemos que retirar o pau-de-spinaker (estávamos em “asa de pombo”, com uma vela aberta para cada lado e a genoa sustentada pelo pau) e reduzir a genoa, que batia muito. O barco ameaçava atravessar toda hora, por causa das ondas que batiam na popa. Com o vento chegando na casa dos 30 nós, resolvemos tirar a mestra e deixar só a genoa. Quando tentamos baixar a mestra com o vento em popa, ela forçou o lazy-jack (cabos que sustentam a vela para não cair fora da retranca) e ele arrebentou. Se descêssemos a vela, ia ser um trabalhão para arrumá-la. Puxamos o cabo do primeiro rizo e fizemos o segundo rizo na vela, deixando-a presa pelos rizos. Dessa forma, só com a mestra no segundo rizo e sem genoa nem mezena, continuávamos andando perto dos sete nós, mas confortavelmente!

 

17/11/2006

Na madrugada o vento apertou mais, chegando a 35 nós nas rajadas. O barco andava muito bem com pouco pano, mas o que incomodava mesmo eram as ondas. Quando a profundidade chegou perto dos vinte metros, muitas ondas apareciam roncando e quebrando atrás do barco. Uma veio de lado e deu um banho no Rodrigo, que dormia no cockpit. Quem conhece um Velamar 45 e sabe como o costado é alto, pode imagina a onda. Quando eu fazia o meu turno na madrugada, sentado atrás do leme, escutei uma onda bater na popa e senti os respingos dela na cabeça! O barco jogava demais com as ondas e a Carol e a Márcia não estavam muito bem e quase enjoaram. O barco ia muito rápido e temíamos chegar de noite em Fortaleza. Tentávamos segurá-lo, mas o forte vento e as ondas altas nos fazendo surfar, queriam nos fazer chegar logo à Fortaleza. O Jonas caiu do beliche numa das sacudidas e me deixou preocupado, mas não foi nada. Com tudo escuro ainda, começamos a fazer a aproximação do porto. O dia começou a clarear e logo distinguíamos o contorno do perigoso navio naufragado na entrada do porto de Fortaleza, onde, soubemos depois, o Hugo quase bateu quando chegava. Com a luz do dia, tudo ficou mais fácil. Logo, o Torres estava com o bote ao nosso lado e nos explicou como entrar e onde colocar a âncora. Fizemos a manobra, descemos a âncora e, quando dávamos ré para parar o barco, sentimos um tranco e o Rodrigo ficou sem manobra no motor, que não engatava nem para a frente e nem para trás! A sorte é que o Torres e o Hélio estavam com seus botes na água e manobraram o Cavalo Marinho, levando-o para a vaga. Agradecemos e cumprimentamos todos os amigos que estavam no píer e todos retornamos aos respectivos barcos para o sono merecido. Nós, após 48 horas e duzentas e cinqüenta milhas navegadas, fomos dormir muito felizes pela chegada em Fortaleza. Nosso sono foi rápido. Nove e meia eu já estava acordado e, após o café, eu, a Márcia e as crianças saímos correndo para tentar ajeitar as “papeladas”. Pegamos um táxi e a primeira parada foi a Polícia Federal, para tentarmos tirar nossos passaportes, a única coisa que ainda nos impede de ir ao Caribe. Lá, fomos super bem tratados e após très horas de preenchimento de papéis, pagamento em banco e outras burocracias, estávamos com nossos passaportes nas mãos!!! Atendimento de primeira, profissionalíssimo e... JÁ PODEMOS IR AO CARIBE!!! Todos ficamos muito contentes e fomos comer um lanche no Mac Donald’s, pois estávamos todos morrendo de fome. Na verdade, descemos do ônibus que nos levava ao posto de saúde para tomarmos vacina para comer, pois não dava para agüentar mais (e olha que, para comermos no “Mac Droga” como chamamos, só com muita fome mesmo!). A próxima parada era para tomarmos as vacinas de febre amarela e pegarmos as carteiras internacionais de vacinação. Isso foi o oposto da Polícia Federal: funcionários em postos de saúde que tentavam atrapalhar na hora da burocracia, mas a Márcia, com “jeitinho”, foi contornando tudo. Aprendi uma coisa: nunca jogar pôquer ou truco com a Márcia! Conseguimos tomar nossas vacinas num dos postos de saúde, mas a carteira internacional só poderia ser conseguida na Secretaria de Saúde. Por sorte era perto e lá fomos nós todos correndo três quadras, carregando o Rafinha, para chegar a tempo. Lá chegando, o guarda nos disse que já havia fechado, mas, olhando nossas caras suadas e aquele monte de crianças, falou para subirmos rapidinho, pois o funcionário ainda não havia descido. Deixamos as crianças no saguão e subimos quatro andares de escadas correndo, pois o elevador estava demorando. Valeu a pena!!! Um funcionário muito atencioso, o Raul, nos recebeu e fez nossas carteiras, em plena sexta-feira, já após seu horário de trabalho! Com tudo resolvido, no limite máximo do tempo, voltamos ao barco de táxi, com uma breve parada na farmácia, pois a gripe me pegou de novo, depois do banho de chuva na saída de Natal para rizar a vela. Voltamos à marina, onde fiquei tomando cervejas com o Rodrigo, Hélio e Fernando, falando da vida e sentindo estar com tudo pronto. Jantamos no barco e, em seguida, fomos dormir, o que foi minha primeira noite de bom sono depois de três noites mal dormidas. Foi um sono tranqüilo, já com tudo arrumado e nada nos prendendo para realizarmos o sonho de chegar ao Caribe!

 

18/11/2006

Dormi bem, mas acordei cedo. Aproveitei e fiz os diários atrasados. Após o café da manhã, as crianças foram para as salas de jogos do hotel, que tem toda a estrutura para distraí-las e também tem monitoras para olhá-las. Eu e o Rodrigo aproveitamos para trabalhar: passamos um cabo na corrente para tirar o esforço sobre o guincho de âncora, arrumamos o lazy-jack da mestra, que havia quebrado e mais uma série de coisinhas. No final da tarde fomos para a piscina e lá tive uns “probleminhas” com o Jonas, que não havia feito quase nada dos diários que eu havia mandado fazer. Resultado: o pessoal saiu para passear numa feirinha e nós ficamos no barco. Eles fizeram todos os diários e eu aproveitei para descansar, já que a gripe e a tosse me pegaram forte.

 

19/11/2006

Acordei um pouco melhor e logo que tomamos café, começamos a trabalhar no barco. O Jonas acordou mais cedo e já estava estudando. Valeu a bronca de ontem! O Rodrigo mandou um rapaz limpar o porão e nós fomos “desmontar” todo o acabamento superior de boreste do barco para passar os fios do rádio SSB, que ele quer instalar. Também tivemos de tirar um monte de coisas do paiol de popa. Após desmontarmos tudo e passarmos os fios, fomos comer um sanduíche numa lanchonete do hotel. Conversamos um pouco e voltamos ao próximo trabalho: passar a antena do SSB. O Rodrigo subiu no mastro de mezena, baixou uma peça para fazermos um furo e, após descer, vimos que a antena era curta e poderia ser passada usando apenas o mastro principal! Ficaria muito melhor, mas mais da metade do trabalho que tivemos foi perdido! Bem, isso acontece. No final da tarde, fomos para a piscina onde aconteceu a reunião do Primeiro Rally Cabedelo-Caribe (mudaram o nome dele), do qual agora somos participantes! A reunião foi muito alegre, com o Bernardo e a Beta, que chegaram ontem, participando. Definimos as paradas e prazos para chegarmos e sairmos dos lugares. Após boas três de bate papo animado, retornamos ao barco mortos de cansaço. Ainda jantamos e fomos dormir. Tossi muito e no meio da madrugada acordei e fui tossir e dormir no cock-pit.

 

20/11/2006

Acordei melhor e, logo após o café da manhã, o Rodrigo foi ver o que havia acontecido com o engate do motor. A surpresa foi boa: apenas os parafusos haviam soltado e isso fez com que o motor e o eixo ficassem desconectados. Os parafusos e porcas haviam sido encontrados pelo rapaz que limpou o porão, mas estavam imprestáveis, pois a rosca estava toda amassada. O Rodrigo saiu para comprar os parafusos e outras coisas mais e eu fiquei com as crianças, enquanto a Márcia arrumava o barco. Aproveitei o dia para ver como estavam os estudos das crianças e para brincar com eles. Jogamos pebolim, bilhar, mata-mata, pingue-pongue e outros jogos. No começo da tarde, dei uma passada no barco para pegar dinheiro para almoçarmos. Quando eu estava para sair do barco, percebemos que o Cavalo Marinho estava se aproximando demais do píer, pois ele jogava muito com as marolas que entravam na marina. Caçamos a corrente da âncora, mas logo ele estava perto do píer outra vez! Fomos caçando e caçando a corrente, até termos caçado uns quinze metros dela. Mesmo assim, ainda havia cinqüenta metros de corrente na água. Começamos a nos preocupar pois, sem o motor, não poderíamos sair para soltar novamente a âncora, se precisássemos. Isso durou duas horas, caçando a âncora e mexendo com os cabos de atracação, até que ela parou de ceder. Provavelmente não estava esticada e cedeu, com os trancos, de algum lugar no fundo onde ela estava presa. Quando esticou de verdade, o problema acabou, mas precisei amarrar um cabo na corrente, pois ela estava saltando fora do guincho, tamanha era a violência dos trancos. Soltamos uma segunda âncora com o bote e o Tim, do veleiro inglês Rose Rumbled, nos ajudou na operação, junto com um bote da marina. O Rodrigo chegou exatamente quando tínhamos acabado! É a velha “lei de Murphy”! Voltei para ficar com as crianças e algum tempo depois o Rodrigo chegou e disse que já havia arrumado o motor. Ficamos conversando na piscina, depois todos tomamos banho para sairmos e comermos uma pizza fora, mas acabamos desistindo e pedimos para entregarem uma pizza no hotel. Levamos as pizzas para a piscina e acabamos comendo-as com os amigos dos outros barcos, que foram aparecendo aos poucos na piscina. Ficamos umas três horas batendo papo e, depois, fomos dormir. Estava quente no quarto e acabei dormindo na sala, que estava muito agradável, mas ligado nos barulhos pois, se o barco soltasse novamente, seria no pior da maré, lá pelas três horas da manhã.

 

21/11/2006

Dia de vários trabalhinhos no barco. As crianças, após o café da manhã, foram para o Marinas Kid’s e ficaram lá brincando. Nesses dias todos, eles não deram trabalho nenhum. Nesse ponto, a estrutura do hotel é fantástica. Com lugares especiais para crianças, com muitos jogos para todas as idades e monitores para “controlá-los”, tivemos sossego total. No começo da tarde, o Kaká-Maumau e o Too Much zarparam com destino a Jericoacoara. Provavelmente os encontraremos na ilha de Lençóis. Trabalhamos até o final da tarde e, como sempre, quando anoiteceu, ficamos ao lado da piscina conversando enquanto as crianças brincavam no salão de jogos.

 

22/11/2006

Após o café da manhã, fui com o Rodrigo comprar algumas coisas que faltavam: frutas, remédios e elásticos. Na volta, conhecemos um amigo do Hugo, chamado Cláudio, e seu cunhado Roberto. Muito simpático, ele procurava nos ajudar em tudo que podia. As crianças passaram outro dia brincando tranqüilas sozinhas. O Kanaloa saiu em direção à Jericoacoara ou Lençóis e desejamos boa viagem ao Torres e Elisa. Quando ia dar um pulo até o Habib’s para comprar esfihas, encontramos o Wilhelm Schurmann. Bati um rápido papo com ele e mandei beijos para a Heloísa e abraços para o Vilfredo. Wilhelm está correndo o campeonato brasileiro de windsurf. Trouxemos as esfihas, que fizeram o maior sucesso e as comemos ao lado da piscina.

 

23/11/2006

Pensávamos em sair hoje, mas aproveitamos que o Hugo havia acabado de colocar o radar dele e poderia instalar o SSB do Rodrigo no Cavalo Marinho. Repassamos os cabos e os “cinco minutos” de instalação se estenderam pela tarde toda, inviabilizando a saída para o Caribe. Houve muita gozação com os “cinco minutos” e só faltaram “cinco minutos” para aterrar o rádio, que vai ficar para amanhã!

 

24/11/2006

Outro dia de arrumações com muita coisa para fazer. O Hugo veio acabar de instalar o rádio do Rodrigo, que faltava só o aterramento. Após a manhã inteira arrumando coisas, resolvemos deixar a saída para o dia seguinte. Relaxamos durante a tarde e ficamos na marina descansando. No final da tarde, fizemos um almo-janta no barco e ficamos conversando até anoitecer. O Rodrigo e o Hugo conseguiram falar entre si, com seus respectivos SSB’s. Fui com o Cláudio e a Gislaine sacar dinheiro e comprar coisas no mercado. As crianças se despediram das moças do Marinas Kid’s.